Redactores: André & Rita

Colaboradores: Leonor, Rodrigo, Beatriz, Matilde

quinta-feira, 2 de abril de 2009

S. Vicente da Beira entre a charneca e o campo

«É a leste do termo de Almaceda ou, se preferir, para a banda direita da estrada que, pelo Orvalho, liga Castelo Branco a Coimbra, que se espraia o “campo” da Beira Baixa, com a linha divisória a distender-se até às proximidades de Lentiscais em direcção a Malpica. E o que vemos no “campo”? Da lenta erosão do granito, que em profusão aflora, resultam solos areníticos, mais profundos e móveis que os da “charneca” e, por tal, é possível o cultivo de plantas mais ricas. Concretamente, a par das searas de trigo, surgiram, num passado distante, manchas de vinha e de oliveira, capazes de suportarem uma economia mercantil e, consequentemente, criaram-se condições para a formação de maiores aglomerados populacionais ou para a instalação de explorações agro-pecuárias, territorialmente de médias e grandes dimensões, em que viviam alguns poucos “vizinhos”. Ficaram conhecidas por “montes”. Porém, há que fazer a suficiente destrinça entre a parte setentrional e a meridional do “campo” albicastrense. Mais concretamente, se nas faldas das serras do Moradal e da Gardunha, com correspondência administrativa ao antigo concelho de São Vicente da Beira, em termos formais já aparece o “monte” (ainda a par do “casal”), em termos substanciais, ou seja, quanto à dimensão demográfica e às formas de exploração do solo, as diferenças não são muito notórias em relação à “charneca”. É que estes são “montes” cujo número de “vizinhos” ou “fogos” pode atingir as duas ou três dezenas, logo o equivalente à dimensão dos “casais” maiores típicos da “charneca”. Além disso, verificam-se semelhanças, também, quanto à natureza das produções, ainda que o solo do concelho de São Vicente seja um pouco mais rico. Di-lo, claramente, o respectivo pároco, em 1758, em resposta ao ponto 15 da Parte 1.ª das ‘Memórias Paroquiais’: «Se responde que no território desta vila se dão todos os frutos pela terra ser muto fértil e os que recolhem os moradores dela em maior abundância é centeio, azeite e castanhas».Foi, por certo, esta relativa riqueza que concorreu para que a vila de São Vicente da Beira tivesse sido muito populosa e tivesse albergado algumas casas senhoriais. Porém, em meados de Setecentos, o declínio já era manifesto. Porquê? O vigário que assina a informação de 1758 não avança qualquer explicação, porém é possível que a rotina tecnológica que marcava a agricultura da região e o progressivo crescimento da população fossem factores decisivos.»
(Fonte: Jornal Reconquista, 2-4-2009: http://www.reconquista.pt:80/noticia.asp?idEdicao=173&id=12863&idSeccao=1742&Action=noticia).