Redactores: André & Rita

Colaboradores: Leonor, Rodrigo, Beatriz, Matilde

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Associação nasce do xisto de Martim Branco

«As salas vazias da recém-recuperada Casa das Artes de Martim Branco já têm como inquilino uma nova associação. Esta pretende motivar o convívio entre a população. (...)
Esta aldeia do concelho de Castelo Branco foi uma das últimas contempladas com uma Loja Aldeias do Xisto, um espaço onde são vendidos produtos que saem das mãos de artesãos das várias aldeias que integram a rede. A loja ocupa parte do rés-do-chão de uma casa (de xisto, pois claro!), mas o edifício com dois andares ainda tem muito espaço para ser ocupado. Esse objectivo motivou o aparecimento de uma nova associação, que é por sinal a primeira a surgir na aldeia.
(...) propõe transformar o espaço num ponto de encontro para os poucos habitantes, algo que praticamente deixou de existir com o fim das tradicionais tabernas.
“Nunca se fez nesta localidade algo que envolvesse o social, o que é importante é ganhar as pessoas para o colectivismo”, diz ao Reconquista, enquanto mostra os cantos à casa. O andar superior possui duas salas interligadas entre si, uma das quais com cozinha. No exterior encontra-se um forno, uma divisão e um terraço com vista para a paisagem natural, ideal para criar um espaço de convívio.
A população da aldeia é sobretudo idosa, mas o apoio social não é para já uma prioridade para a associação. “Eu penso que Almaceda tem excelentes condições e que dão resposta às necessidades das pessoas daqui”, referindo que o Centro Social de Almaceda dá apoio domiciliário aos utentes de Martim Branco. (...). Nesta fase inicial a colectividade pretende desenvolver o espírito associativo. As ideias são várias. “Nós temos excelentes condições para pesca desportiva, BTT, o percurso pedestre” enumera Sebastião Antunes.
Para o surgir da associação, o dirigente diz que foi imprescindível o papel da Câmara Municipal de Castelo Branco, que apoiou na recuperação da casa. E personifica em Joaquim Morão esse apoio. “Este foi o primeiro presidente de câmara que veio a Martim Branco, quando foi feito o ramal de estrada”. Sebastião Antunes, que também foi autarca, espera que sejam recuperadas mais algumas casas que se encontram em ruína, mas está sobretudo preocupado com a ribeira de Almaceda. “Noutros tempos havia aqui um açude que dava saída à levada (…) está-se a desertificar a ribeira que hoje começa a ser uma linha de água sem grande valor”, refere.
O caixão do povo Dos tempos de juventude, Sebastião Antunes guarda vários retratos da sua aldeia. Um dos mais curiosos está relacionado com a morte. Antigamente não havia um caixão por cada pessoa que morria. Quando isso acontecia entrava em cena um esquife. “Havia um esquife para o qual iam todas as pessoas, que era posto em cima de uma escada de colher a azeitona e os homens levavam aquilo aos ombros. Chegava-se lá (a Almaceda), tirávamos o corpo e trazíamos o esquife, que está guardado lá em cima num dos moinhos”. Mesmo assim Martim Branco não era uma aldeia de miséria. “Não há ninguém que não tenha o seu bocadinho de terra onde faz a horta”. Mel, azeite e resina são outros produtos que a terra dá por estes lados.
Encontrar referências sobre a origem da freguesia não é tarefa fácil e nem na Torre do Tombo o conseguiu. Sebastião Antunes sabe pelo menos que “em termos históricos Martim Branco é lá em cima”. O dirigente da associação é um apaixonado pela terra de origem, cuja envolvente compara a uma cama de casal. “A serra que está lá por cima de Almaceda faz de travesseiro e estas duas serras fazem tampão aos ventos laterais, o que origina que só haja ventos de norte e sul”.»
(Fonte: Jornal Reconquista, 14-08-2008)

Vídeo no Sapo.pt/www.reconquista.pt